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sexta-feira, 21 de março de 2014

Canadá nomeou embaixador na Venezuela especialista em conflito e mídias sociais


Ben Rowswell é recebido na Embaixada do Canadá em Caracas.
Diplomata já atuou no Iraque, Afeganistão, Somália e Egito

Ben Rowswell esteve no Afeganistão e Iraque e se especializou no aproveitamento das mídias sociais para missões diplomáticas


Ben Rowswell (à direita) durante visita à Praça Tahrir, no Cairo,
epicentro dos protestos no Egito

Em meio a manchetes dominadas pela situação da Ucrânia, essa notícia passou quase despercebida no final de fevereiro: Ben Rowswell substituiu Paul Gibbard como o embaixador canadense na Venezuela, como estipulado pelo ministro de Relações Exteriores, John Baird.

Mas uma rápida olhada para o passado dele dá um significado especial à sua promoção, especialmente como opositor da escalada de protestos na Venezuela.


Ben Rowswell e General Sheila Fraser
no Afeganistão
Descrito em 2010 como uma “estrela ascendente do serviço de relações exteriores” pelo jornal Toronto Star, Rowswell foi o representante diplomático oficial do Canadá em uma série de locais importantes no Oriente Médio. De Candaar, no Afeganistão, até Cabul e Iraque imediatamente depois da queda de Saddam Hussein, Rowswell se tornou especialista em representar os interesses do Canadá no calor do conflito.

Aos 22 anos, ele teve um batismo de fogo nas relações exteriores, trabalhando em Mogadíscio durante a guerra civil da Somália no começo dos anos 90. Ele prosseguiu para a embaixada do Cairo, de 1995-1998.



Um diplomata da era digital, ganhou o título de “diretor de Inovação” no Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior canadense.

Enquanto supervisionava as "transições democráticas" no Afeganistão, Iraque e Egito, o adido incipiente se especializou no aproveitamento das mídias sociais para as missões diplomáticas, a fim de interagir diretamente com atores não-estatais, e de fato contornando o governo do país de destino.

Em 2011, Rowswell deu uma palestra fascinante para a plataforma TED na Universidade de Hayward, na Califórnia, que delineou sua visão sobre o poder das mídias sociais para moldar a democracia. Ele se concentrou no Egito pós-Mubarak, antes da eleição de Mohammed Morsi.

Ele detalhou como noções de raça, etnia e classe podem ser deixadas de lado na hora de se organizar por meio de plataformas de mídia social. Ele teorizou que a internet permite a "democracia de código aberto", permitindo aos indivíduos trocarem ideias como iguais.

Mas vamos olhar para essa ideia no contexto da Venezuela, onde as classes média e alta são mais propensas a ter acesso regular à internet. O Twitter e o Facebook têm sido as ferramentas escolhidas pela oposição nos últimos meses, tanto para organizar protestos como para pedir apoio internacional.

A própria Revolução Bolivariana nasceu há 15 anos a partir de movimentos sociais massivos e desde então tem experimentado muitas formas revolucionárias de participação democrática. Mas o conceito deles é diferente do que Rowswell e outras potências ocidentais têm em mente.

Depois da tentativa de golpe de 2002 e das mobilizações de massa que restauraram Chávez ao poder, a causa do socialismo foi retomada com maior entusiasmo. Desde o seu início, o governo bolivariano criou instituições que, embora não expropriem o capital diretamente, têm desafiado suas perspectivas de longo prazo.
As cooperativas e propriedades coletivas de trabalhadores atuais existem lado a lado a conglomerados empresariais e investimentos privados. Existe uma forma de dualidade de poder na Venezuela, e dentro dessa balança, um abismo de classes expandido pela mudança de autoridade.

O governo canadense já deixou claro que os seus interesses estão fora das décadas de organização lideradas pelas massas venezuelanas. Um moção que recebeu aprovação unânime de todos os partidos na Câmara dos Comuns e patrocinada pelo crítico de negócios estrangeiros da NDP (Novo Partido Democrático), Paulo Dewar, efetivamente condenou as tentativas do governo venezuelano de lidar com os protestos recentes.

A declaração foi aprovada tanto por conservadores como por liberais, incluindo o parlamentar Jim Karygiannis que tem sido extremamente crítico ao governo venezuelano.

Rowswell também argumentou que a mídia social pode criar transparência. Entretanto, a oposição da Venezuela forneceu ampla evidência do contrário. Muitas fotos da Turquia, da Ucrânia, do Brasil, e até mesmo da Síria circularam pelas redes sociais com a intenção de provocar indignação com o tratamento dos manifestantes na Venezuela. Durante a cerimônia do Oscar, a oposição foi ao Twitter reclamar que a cerimônia tinha sido censurada. A verdade é que o Oscar foi ao ar pela TNT, na Venezuela, um canal a cabo.


O Canadá, além disso, sabe como travar campanhas na internet e não vai ficar atrás. Poucas horas depois da nomeação de Rowswell, uma nova conta da Embaixada apareceu no Twitter. Adam Goldenberg, liberal e ex-porta-voz de Michael Ignatieff, tuitou em resposta: "Parabéns, Ben! Excelente escolha, ministro, por todos os tipos de razões”. Como sempre, a política externa imperial do Canadá é um assunto bipartidário.

Essa nomeação não é prova de que o governo canadense e a oposição venezuelana estão conspirando um ataque contra o presidente Nicolás Maduro. Apesar de que golpes violentos realizados por uma minoria estão longe de ser uma coisa do passado, os planejadores de políticas canadenses entendem que a transformação da oposição em um movimento de massa seria uma maneira muito mais eficiente de proteger seus interesses, com menos reação internacional.


Rowswell é o melhor homem para incentivar essa contrarrevolução "democrática", dada sua linhagem. Ele certamente sabe como interagir com as classes médias raivosas no Twitter. Como os protestos continuam, seria prudente ficar de olho na embaixada canadense em Caracas.


* Originalmente publicado no Venezuelan Analysis


Fonte: Opera Mundi
Imagens: Opera Mundi, Google


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