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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

HIPOCRISIA AMBIENTALISTA 3


Thomas Lovejoy “strikes again”

Há décadas, o biólogo estadunidense Thomas Lovejoy é um dos influentes integrantes das campanhas do movimento ambientalista internacional na Amazônia brasileira. Entre as suas contribuições, foi o idealizador da esdrúxula proposta de trocas de “dívida-por-natureza” (debt-for-nature swaps), que permitiria o abatimento de parcelas das dívidas externas de países dotados de grandes áreas florestais em troca de compromissos com a preservação destas. Embora não tenha proliferado, a proposta foi o embrião dos dispositivos financeiros que, atualmente, seduzem governos – como o brasileiro – para aderir a mecanismos compensatórios semelhantes, sob pretexto do combate ao aquecimento global.

Presença suspeita

Recentemente, Lovejoy foi um dos especialistas consultados para a elaboração do relatório «Brasil Global e Relações EUA-Brasil», recém publicado pelo Conselho de Relações Exteriores (CFR), um dos mais influentes órgãos deliberativos do establishment estadunidense, que convida o Brasil a investir no molde de uma “potência ambiental” e grande exportador de matérias-primas e energia (MSIa Informa, 11/08/2011). Em 16 de agosto, a Folha de S. Paulo publicou uma entrevista com ele, que está de férias no País. Mas, aparentemente, sua visita tem outras finalidades, pois coincide com uma intensa mobilização do aparato ambientalista para tentar influenciar a votação do projeto de reforma do Código Florestal, atualmente em tramitação no Senado. Não por acaso, a entrevista à Folha foi orientada para a ideia de que o Código não precisa de mudanças.

Continua o alarmismo

Fiel ao alarmismo que tem caracterizado a sua militância “verde”, ele sugere que a devastação na Amazônia pode estar chegando a um limite irreversível. Em suas palavras: «O Banco Mundial pôs 1 milhão de dólares num estudo que projeta pela primeira vez os efeitos de mudança do clima, queimada e desmatamento juntos. Os resultados sugerem que poderia haver um ponto de inflexão em 20% de desmatamento [da floresta original]. Estamos bem perto, 18%. Isso significa que áreas do sul e sudeste da mata vão começar a secar e se transformar em cerrado. É como jogar uma roleta de dieback [colapso] na Amazônia.» Segundo ele, tal limite poderia ser atingido em pouco tempo: «Não fiz cálculos, mas não tomaria muito tempo. Pode ser cinco anos, se continuar assim. Claro que [a devastação] traz implicações para os padrões de chuva, incluindo as áreas agroindustriais de Mato Grosso e mais ao sul, até o norte da Argentina.» Questionado pela jornalista Anna Virginia Balloussier, sobre a rigidez da legislação ambiental brasileira, comparada à dos EUA, onde «sequer estão na mesa criar coisas como a reserva legal», Lovejoy saiu-se com a seguinte: «Só estou tentando pensar no que faz sentido para o Brasil, não necessariamente no que faz sentido o Brasil fazer para o resto do mundo. O atual Código Florestal é um dos mais visionários [sic] do planeta. Nos EUA, temos de pagar o preço de não ter tido essa visão há muito tempo. E também não temos florestas tropicais, mais sensíveis.»

Recados ambientalistas

Outra pergunta, sobre a avaliação da atitude da presidente Dilma Rousseff no debate, lhe proporcionou transmitir diretamente o “recado” do aparato ambientalista: «Até agora, parece muito prático, sério. Como ela vai responder a qualquer que seja o Código Florestal será, claro, um grande teste. Mas ter deixado claro que o governo Dilma não aprovaria a anistia [aos desmatadores] é um sinal bem positivo. O que é perigoso, na lei, é a ideia de dar o poder de demarcar as reservas legais aos Estados. Se você vai administrar a Amazônia como sistema, precisa ser consistente.» Da mesma forma, ele assim respondeu à pergunta sobre se o Brasil é capaz de cuidar sozinho da Amazônia: «O BNDES tem de ser cuidadoso com os projetos de infraestrutura, pois há todos os outros países [amazônicos]. O Brasil não deveria segurar a responsabilidade sozinho. A Amazônia é um elemento-chave no funcionamento do mundo. É do interesse de outros países ajudar o Brasil.»

Chantagem ambientalista

Como se percebe, é a mesma surrada agenda do ambientalismo desde a década de 1980: na época, a “soberania restrita” sobre a Amazônia; hoje, “responsabilidades compartilhadas”, com apoio externo em troca de que o País abra mão de desenvolver e modernizar a economia amazônica. Para concluir, não poderia faltar uma menção ao aquecimento global:
Folha«Parte da comunidade científica minimiza o papel do homem no aquecimento global. O que o sr. acha?»

Lovejoy «Não há quase nenhum cientista com credibilidade que acredite nisso. Nos últimos 10 mil anos, a história climática do planeta foi bem estável. Agora, nós o estamos mudando. Está claro que 2ºC a mais é muito para a Terra.»
Como sabe qualquer pessoa com um conhecimento perfunctório da história climática do Holoceno, os últimos 12 mil anos em que a Civilização tem existido, grande parte deste período tem experimentado temperaturas mais elevadas que as atuais. O mesmo ocorreu com os níveis do mar, que chegaram a ser 3-4 metros superiores aos atuais, há 5000-6000 anos, no chamado Holoceno Médio. Em suma, mesmo “de férias”, convém prestar (muita) atenção à movimentação de Lovejoy.

Quem é Thomas Lovejoy

Thomas E. Lovejoy III é um veterano integrante do movimento ambientalista internacional, sendo um dos seus mais graduados especialistas em assuntos referentes à Amazônia, região onde tem trabalhado desde a década de 1960. Seu currículo inclui importantes posições em diversas áreas do aparato ambientalista. Entre outras, foi diretor do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) nos EUA, diretor do Instituto Smithsoniano e conselheiro do Departamento de Estado para assuntos de biodiversidade e meio ambiente. Atualmente, é assessor da Presidência do Banco Mundial e da Presidência da Universidade das Nações Unidas, presidente do Centro Heinz para a Ciência, Economia e Meio Ambiente (ligado à influente Fundação Heinz) e professor da Universidade George Mason. O seu verbete na Wikipedia informa, também, que ele foi o introdutor da expressão “diversidade biológica”, na década de 1980. Da mesma forma, ele criou o conceito das “ilhas” de biodiversidade, que ficaram conhecidas como “ilhas de Lovejoy”. Segundo ele, suas observações na Amazônia revelaram que, quando o desmatamento da floresta deixava pequenas parcelas com a vegetação original, estas áreas diminutas perdiam a sua biodiversidade, com a fuga das aves e morte das árvores.
Alarmista, como sempre

O verbete também menciona, sem dar detalhes, uma citação sua sobre o impacto das ações humanas na biodiversidade: «Centenas de milhares de espécies perecerão, e esta redução de 10-20% da biota terrestre ocorrerá em mais ou menos a metade do período de uma vida humana… Esta redução da diversidade biológica do planeta é o assunto mais fundamental do nosso tempo.» Como se pode perceber, as ideias de Lovejoy têm representado importantes ferramentas de trabalho para o ambientalismo e suas campanhas intervencionistas, em especial, no Brasil.

Afirmações sem base científica, para variar…

Quanto à precisão científica delas, é outra história. A falta de fundamentação para o catastrofismo de Lovejoy et alii fica evidenciada, por exemplo, em seus prognósticos sobre a extinção de espécies. Um dos poucos que se deram ao trabalho de verificar a origem desses valores foram o economista Julian Simon e o cientista político Aaron Wildavsky. Na década de 1980, depois de levantar muitas referências retroativas, eles chegaram a Lovejoy e seu colega Norman Myers. O primeiro, então no WWF, era citado no relatório Global 2000, divulgado em 1977 pelo governo dos EUA, afirmando que, «das 3-10 milhões de espécies hoje presentes na Terra, pelo menos 500.000-600.000 serão extintas durante as próximas duas décadas». Em um artigo conjunto publicado no livro The Resourceful Earth (1984), editado por Simon e Herman Kahn, Simon e Wildavsky observam:
«A base para qualquer projeção para o futuro útil deve ser um conjunto de dados coletados em situações que englobem as condições esperadas, ou que possam ser racionalmente extrapolados para as condições esperadas. Porém, nenhuma das referências de Lovejoy contém qualquer conjunto de dados cientificamente relevante. A única fonte publicada mencionada para a sua tabela principal é um livro de Norman Myers, ‹The Sinking Ark›, escrito sob os auspícios de um comitê do qual Lovejoy é um dos três membros. Os textos de Myers e Lovejoy, que não são independentes, parecem ser a única fonte básica de todos os amplamente discutidos prognósticos sobre extinções de espécies.»

Incrível suposição

No livro de Myers, encontra-se a seguinte observação: «Suponhamos que… a quarta parte final deste século presencie a eliminação de um milhão de espécies – uma perspectiva longe de ser improvável. Isto se traduziria… numa taxa de extinção média… superior a 100 espécies por dia.» Aí está, sem rodeios, a origem dos números escabrosos que têm sido repetidos como mantras desde então: nada mais, nada menos que simples suposições, sem qualquer valor científico real, como demonstraram Simon e Wildavsky.


Abrindo o jogo

Em uma entrevista publicada em 1983, Lovejoy falou abertamente sobre os objetivos da estratégia ambientalista:

Lovejoy«Eu quero esclarecer uma coisa agora mesmo: algumas pessoas têm circulado histórias maldosas de que o WWF está tentando parar todo o investimento no setor em desenvolvimento, que não queremos nenhuma indústria, que tudo em que estamos interessados são em plantas e animais. Isto é uma mentira…»

Pergunta«Mas o WWF não se coloca ao lado dos animaizinhos e plantas exóticas, contra o desenvolvimento industrial e de exploração de recursos naturais em certas áreas?»
Lovejoy:

«Certamente. Mas isso não significa que somos contra o desenvolvimento. Somos contra o desenvolvimento descuidado. Quem você pensa que eu sou? Você sabe realmente quem sou eu? Sou o presidente do comitê executivo da diretoria da [seguradora] Metropolitan Life. Você sabe quem é realmente Russell Train [na época, presidente do WWF-EUA e ex-alto funcionário da OTAN]? Quem, diabos, você pensa que faz investimentos no setor em desenvolvimento? Quem ganha dinheiro? Dê uma olhada na diretoria do WWF e você encontrará os líderes da comunidade empresarial e financeira! Somos nós que investimos. Lucramos e queremos continuar assim – ao mesmo tempo em que estamos protegendo os animaizinhos… O maior problema são esses malditos setores nacionalistas desses países em desenvolvimento. Esses países pensam que podem ter o direito de desenvolver seus recursos como lhes convêm. Eles querem se tornar potências, estados soberanos e elaboram suas estratégias… Nós achávamos que podíamos controlar melhor as coisas argumentando com esses líderes, esses tolos nacionalistas. Superestimamos a nossa capacidade de controlar as pessoas e vamos ter que ajustar isso. Será um ajuste doloroso, sem dúvida. Não, o problema real é este nacionalismo estúpido e os projetos de desenvolvimento aos quais ele leva.»

Arrogância e desprezo pelo Brasil

«Os brasileiros – e eu sei disto de uma experiência de 17 anos – pensam que podem desenvolver a Amazônia, que podem tornar-se uma superpotência. Vivem de peito estufado com isso. Portanto, você tem que ser cuidadoso. Você pode ganhá-los com pouco. Deixe-os desenvolver a bauxita e outras coisas, mas restruture os planos para reduzir a escala dos projetos de desenvolvimento energético alegando razões ambientais. Eles não podem conseguir dinheiro agora. Então, fazemos com que alguns bancos amigos digam a eles que eles podem conseguir dinheiro para o que estamos sugerindo. Então, alguns de nossos amigos no ministério de planejamento vêm e dizem que isto é uma boa idéia.» (Club of Life White Paper, International Bankers’ Real Agenda: Global Depopulation, New York, February 1983)

Atualmente, Lovejoy é mais cuidadoso com suas palavras (ele já chegou a negar a autoria da entrevista), mas o seu empenho na “guerra irregular” que o aparato ambientalista internacional move contra o Brasil continua sendo o mesmo.





Movimento de Solidariedade Íbero-americana

Créditos ➞ este post é matéria apresentada no Boletim Eletrônico MSIa INFORMA, do MSIa – Movimento de Solidariedade Íbero-americana, Vol. III, No 15, de 25 de agosto de 2011. Introduzi subtítulos no texto para facilitar e incentivar a leitura.

MSIa INFORMA ➞ é uma publicação do Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa). Conselho Editorial: Angel Palacios, Geraldo Luís Lino, Lorenzo Carrasco (Presidente), Marivilia Carrasco e Silvia Palacios. Endereço: Rua México, 31 – sala 202 – Rio de Janeiro (RJ) – CEP 20031-144; Telefax: 0xx 21-2532-4086.

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Blog Ambientalista

Um comentário:

maria disse...

olá Burgos: obrigada novamente porque é um presente e mais outro logo a seguir! Depois de ler esta série sobre ecologia, enviei para alguns aficcianados da matéria que para mim não passam de inocentes úteis, defendendo os parques nacionais que aqui onde eu moro já foram hipotecados aos bancos internacionais para garantir empréstimos para construções duvidosas como aquelas que os governos em SC têm solicitado, uma infraestrutura em duplicação de vias urbanas e rodo anel rodoviário numa ilhazinha, como Florianópolis, onde a solução do deslocamento por água seria a que salta aos olhos de qualquer um.
Também já me utilizei de parte das declarações do tal Lovejoy para mostrar que nem todas as pessoas no Brasil assinam petições em prejuízo dos interesses do país, sem antes pensar e tentar se informar um pouco. Trata-se neste caso de algumas petições encaminhadas por uma organização de nome Avaaz que faz algum tempo queria parar Belo Monte e agora quer deter a construção de uma estrada atravessando a Amazonia boliviana e ligando-a com a brasileira. Abraços

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